Escola Inclusiva
"...aquela que assume um modelo que permite oferecer uma educação de qualidade a todos os alunos e alunas, independentemente das suas circunstâncias sociais, culturais, de género, físicas ou cognitivas".
BLANCO, F., “Escuela Inclusiva: un concepto multidimensional”, Dezembro 2006
O movimento de Integração é anterior ao conceito de Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.), mas este conceito vem reforçar a perspectiva integracionista. A integração do aluno na sala de aula do ensino regular é uma concretização da necessidade de mudança de atitude face ao ensino tradicional. É nos anos setenta que mais se tenta modificar a estrutura tradicional do sistema. Quando nos finais dos anos setenta se consegue reduzir o número de alunos por turma (20 alunos), nos casos de integração de uma ou duas crianças com problemas, espera-se que os professores, com a turma reduzida, criem uma dinâmica de aula diferente e não uma superprotecção do aluno integrado. A dinâmica da aula (escolha de conteúdos, estratégias e recursos) teria de ser desenvolvida no sentido de fazer funcionar aquele grupo de alunos - com aquele aluno - perante o trabalho a realizar. A dinâmica que a reforma tenta introduzir irá mexer com toda a Escola: espaços, turmas, professores, gestão e enfoques de aprendizagem. Para uma criança ou jovem estar integrado numa escola é necessário ter uma resposta organizada para as suas necessidades educativas e essa resposta educativa é da competência da escola da sua área de residência. Hoje, exige-se à escola regular não só uma integração, mas também a responsabilidade pela adequação da resposta a dar a cada criança ou jovem que faça parte da sua comunidade educativa. Esta Escola Inclusiva, onde deverá processar-se uma educação para todos, implica uma responsabilização do meio envolvente e vai envolver um maior número de intervenientes no processo educativo. O conceito abrangente de Escola Para Todos faz desviar a atenção da problemática individual para o conjunto de recursos que poderão (ou deverão) estar à disposição de qualquer criança ou jovem que em qualquer altura do seu percurso escolar tenha necessidades educativas. Assim, a qualidade do ensino e da aprendizagem tem a ver com a individualização das respostas que são criadas e não exclusivamente com a criação de respostas para determinado grupo de indivíduos. O conceito de Escola Para Todos vem alargar o âmbito da acção da escola, mobilizando e interagindo com os recursos disponíveis e a disponibilizar, exigindo uma dinâmica em que todos os professores, técnicos da comunidade escolar local e pais se envolvam, mobilizados e responsabilizados. Podemos então deixar destacado que:
· O conceito de necessidades educativas especiais traz consigo uma mudança na perspectiva da construção da resposta adequada a cada situação específica.
· O conceito de educação para todos vai alargar o âmbito de intervenção dos professores do ensino regular.
· A escola regular terá de ser uma escola inclusiva e um pólo dinamizador da resposta para cada criança ou jovem.
· A perspectiva ecológica na actuação educacional vai exigir uma escola aberta, em interacção com o contexto em que está inserida e a redefinição de papéis e funções do professor do ensino regular, numa dinamização activa de todos os intervenientes no processo educativo
· A actuação do professor , na sala de aula, tem de ser reestruturada em função da heterogeneidade do seu grupo/classe, no que diz respeito aos saberes já adquiridos pelos alunos, às suas vivências, necessidades e interesses, numa perspectiva de pedagogia diferenciada em relação ao mesmo grupo e no mesmo espaço ” ( Sanches, 1996 )
A prática vivida nas escolas continua, ainda, marcada pela influência das medidas de apoio pedagógico e educativo, numa perspectiva apenas compensatória. O apoio, visto nessa concepção como algo de suplementar, surge como um extra para remediar, apesar da premência de uma escola inclusiva. A legislação mais recente sobre este assunto refere já as medidas de apoio pedagógico e educativo numa perspectiva diferenciada, tanto ao nível de organização da escola para a diferenciação, como de estratégias mais específicas de diferenciação pedagógica, nomeadamente o ensino diferenciado no interior da sala de aula, integrando o mesmo currículo. Torna-se assim necessário que a criança ou jovem se sinta num clima seguro para participar de uma forma mais completa tanto na vertente académica como na social.” Criar este clima securizante passa pelo reconhecimento, por parte do professor, do aluno enquanto pessoa, com um determinado património sociocultural, com os seus interesses, necessidades, experiências, saberes e dificuldades. Este reconhecimento alarga-se ao grupo turma onde a heterogeneidade se evidencia e exige que não ensine todos os alunos como se fossem um só – o aluno médio – mas se criem condições para um ensino individualizado, no sentido dos percursos e das regulações” (Benavente, 1992 ; Perrenoud, 1995, citado por Cadima e outros, 1995). Há que reconhecer que o contacto e o convívio, no plano formal e informal, entre alunos com e sem dificuldades, entre alunos com e sem deficiências, é um meio insubstituível de normalização de comportamentos; é uma oportunidade de criar laços de vinculação e de relações afectivas. Estas relações interpessoais podem vir a tornar-se um suporte emocional fundamental no desenvolvimento de crianças com necessidades educativas especiais. Por outro lado, os alunos, ditos “normais”, poderão desenvolver uma maior capacidade afectiva e de aceitação das diferenças individuais. Ainda segundo Cadima (1995), a aceitação da diversidade e pluralismo exige um desenvolvimento de uma pedagogia diferenciada que valorize o sentido social das aprendizagens, que permita gerir as diferenças do grupo, no seio do próprio grupo e, através das capacidades que cada membro tem. “ Não se trata de dar mais a quem tem menos ou de partir do que os alunos não sabem, tal como acontece habitualmente na educação compensatória. Numa educação diferenciada criam-se situações que permitam partilhar o que cada um tem, a partir do que cada aluno sabe” (Cadima,1995). De tudo o que temos vindo a analisar, o conceito de Inclusão baseia-se, portanto, nas necessidades da criança ou jovem vistas como um todo e não apenas no desempenho académico do “aluno médio”. O princípio da Inclusão apela, assim, para uma escola que tenha em atenção a criança como um todo, não só criança-aluno, e que, por conseguinte, acredite no seu desenvolvimento académico, sócio-emocional e pessoal.
BANHUDO, F., “A Caminho da Escola Inclusiva – Inclusão, Diferenciação e Individualização”, 2010
Material de Apoio:
Educação Inclusiva em Portugal.pdf (267,3 kB); Educação Inclusiva.ppt (685 kB).