Lev Vygotsky

O conceito de mediação é o conceito central da Psicologia "defendida" por Vygotsky. Segundo este, as funções cognitivas aparecem duas vezes no desenvolvimento cultural da criança: primeiro a nível social- interpsicologicamente; depois a nível individual- intrapsicologicamente.Desta forma, Vygotsky defendia que as crianças constroem o seu conhecimento, à medida que aprendem e por conseguinte se desenvolvem, sem nunca se separarem do seu contexto social. Torna-se importante ênfatizar a importância que a linguagem tem neste processo, pois esta desempenha sem dúvida, um papel central no desenvolvimento da mente. 

Para Vygotsky, a apropriação do conhecimento consiste no momento em que, o aprendiz, interiorizou ou aprendeu determinada informação ou conceito, e é capaz de utilizar esse conhecimento independentemente. A actividade humana é mediada pelo uso de ferramentas, que estão para a evolução cultural como os genes para a evolução biológica. Tal como estas ferramentas, os sistemas de signos(linguagem, escrita, numeração) são criados pela sociedade e mudam com o seu grau de desenvolvimento. Cada indivíduo alcança a consciência através da actividade mediada por essas ferramentas, que unem a mente com o mundo real dos objectos e dos acontecimentos.

Reforça ainda que as funções mentais superiores:

  • São dependentes das funções inferiores,
  • São determinadas pelo contexto cultural,
  • Evoluem de uma função partilhada para uma função individual(para Vygotsky, a escolaridade formal é um dos contextos mais favoráveis para o desenvolvimento das funções mentais superiores).

 A Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP) -  Área potencial de desenvolvimento cognitivo que consiste na distância que medeia entre o nível actual de desenvolvimento da criança, determinado pela sua capacidade actual de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares mais capazes.

 A ideia da ZDP influencia, a três níveis, a concepção do processo de ensino/aprendizagem:

  • Como assistir uma criança na realização de uma tarefa?
  • Como assistir crianças?
  • Como determinar o que é apropriado do ponto de vista do desenvolvimento?

Esta ideia aumenta o alcance do que é considerado apropriado em termos de desenvolvimento, que normalmente é definido pelas realizações independentes da criança, pelos processos e habilidades que tenham desenvolvido completamente. Não inclui o nível de desempenho assistido, nem os processos e habilidades emergentes. Portanto, é mais previsível que os professores esperem a emergência espontânea de determinado comportamento antes de promoverem actividades que o encorajem. Como resultado, as crianças só dispõem de oportunidades que Vygotsky considera o nível inferior da sua ZDP, ou seja, comportamento da criança durante o desempenho assistido revela os comportamentos que estão em vias de emergir. Se insistimos e desempenho independente apenas para descobrir onde é que uma criança está, o que sabe e o que pode fazer, então as habilidades que estão à beira de emergir nunca serão evidentes. Desta forma, importa saber distinguir o conceito de "aprendizagem" de "desenvolvimento":

Aprendizagem:

  • Precede o desenvolvimento
  • Progride mais rapidamente que o desenvolvimento
  • Redunda em desenvolvimento

Desenvolvimento:

  • É o nível máximo a que uma criança pode chegar, no momento.

    Nota:

  • Quando uma habilidade está fora da ZDP, as crianças ignoram-na, falham ou usam-na incorrectamente. É pela observação das reacções/respostas que os professores conhecerão se a sua assistência cai dentro da ZDP;
  • Os professores devem anotar com cuidado quais os tempos, ideias, actividades ou actividades cooperativas que têm um efeito desejado na aprendizagem das crianças;
  • Os professores não devem ter medo de tentar um nível mais elevado, mas devem ouvir as crianças, dando atenção às reacções às suas tentativas de as assistir a desenvolver ferramentas mentais mais elevadas – dentro das suas ZDPs e, assim, expandindo-as.

Em suma, a ZDP é uma "janela" de aprendizagem. Sendo que cada pessoa contém a sua (a ZDP de cada aprendiz é única), é de se esperar uma desigualdade de "janelas" dentro de um memsmo grupo, por isso é que todos somos considerados únicos e diferentes, com vivências e memórias muito nossas. É assim e ainda nesta nota, que Vygotsky nos submete para um suporte contextual específico do professor, onde este se deve basear maioritariamente na ZDP da criança, em actividades condutoras e no desempenho esperado, atendendo sempre ao nível etário da criança.

Mediação exterior

O mediador externo é:

  • Ter significado especial para a criança e ser capaz de invocar esse significado
  • Estar ligado a um objecto que a criança use antes ou durante o desempenho da tarefa
  • Manter-se saliente, visível
  • Combinar mediação com linguagem e outras sugestões comportamentais.
  • Deve escolher-se um mediador cuja utilização possa “cair” dentro da ZDP da criança
  • Deve usar-se o mediador para representar o que se pretende que a criança faça.
Utilidade dos mediadores
  • Tornam o processamento mental mais fácil e mais eficaz
  • Eventualmente, darão às crianças ferramentas que as habilitem a empenhar-se em processos mentais superiores.
Utilidade dos mediadores a curto prazo :
  • Darem suporte ao procedimento mental;
  • Ajudarem a criança a focar e a dar atenção à tarefa;
  • Funcionarem como estímulo fora da dependência do professor;
  • Permitirem que a tarefa seja desempenhada pela criança, de uma maneira mais eficaz.
Utilidade dos mediadores a longo prazo:
  • Proporcionar assistência ao desenvolvimento das funções mentais elevadas;
  • Ajudar a criança a adquirir memória deliberada,atenção focada e auto-regulação;
  • Dar suporte à necessidade de expansão da ZDP.

Vygotsky defendia ainda o uso de actividades partilhadas como, passo a citar, a assistência (produto de uma actividade partilhada pela qual se dá à criança a ajuda que necessita para funcionar no nível mais elevado da sua ZDP). Para promoverem este tipo de ajuda, os professores precisam de criar diferentes formas de assistência e, em consequência, diferentes modos de experiência partilhada. A assistência e as experiências partilhadas são o resultado de um contexto social (factor essencial do desenvolvimento humano, para Vygotsky).

As trocas e interacções num nível social podem ser:

  • Criança → Professor; 
  • Professor → Criança;
  • Criança → Criança;  
  • Criança → Participantes imaginários.      

As actividades partilhadas levam as crianças e os professores a clarificar e elaborar o seu pensamento e o uso da linguagem, uma vez que, para comunicar, há que ser claro e explícito.

“É preciso transformar as ideias em palavras, desenhos, construções, ou em qualquer outra coisa que possa ser compreendida pelo outro"

Papel do professor

    Um professor pode participar na actividade partilhada como um participante directo ou como uma pessoa que promove, planifica e cria as oportunidades para a actividade partilhada a ser desenvolvida com outros. Este deve considerar determinados pontos, agindo sempre como parceiro da criança, ajudando-a a distinguir o que é essencial do que não é essencial e a estabelecer relações com um sistema conceptual mais alargado, procurando sempre apropriar o conteúdo ao processo de pensamento da criança e criar várias formas de transferência de modo a incutir responsabilidade na criança pela sua própria aprendizagem. 

Questões sobre o papel dos pares:

    (É preciso notar que a simples interacção com a criança não é necessariamente suficiente para promover o seu desenvolvimento)

  •  Em algumas situações, interacções casuais podem ajudar a aprender, mas também podem multiplicar mal-entendidos.
  •  As interacções no interior de um contexto social de actividade partilhada são muito complexas.
  •  Pode ser muito complicado para uma criança descobrir, por si própria, o que o grupo está a tentar conseguir em diferentes situações sociais.

 

Para promoção da aprendizagem, a criança deve envolver-se em formas muito específicas de interacção com outros

 

Algumas das interacções mais benéficas:
  •  Cooperar para concretizar uma tarefa com sucesso;
  •  Assumir papéis designados;
  •  Representar para uma pessoa imaginária;
  •  Actuar, representando, como especialista ou como novato;
  •  Jogar (Deve ser entendido como uma actividade da aprendizagem, pois brincar pode servir como uma ferramenta da mente - Vygotsky defendia que o jogo infantil influencia o desenvolvimento, originando a ZDP, facilitando a separação entre o pensamento e as acções e objectos e facilitando o desenvolvimento da auto-realização);
  •  Envolver-se em conflitos cognitivos e exprimir os seus pontos de vista.

 

Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lev_Vygotsky