Transformando Suor em Ouro

Este foi o livro escolhido para a realização da ficha de leitura, tendo em conta que em tudo o que leio e aprendo, vejo voleibol, mesmo sabendo que este Mestrado e estas aulas são totalmente orientadas para a docência. Desta forma, não pensei duas vezes em associar este livro à disciplina, à situação e ao momento da minha possível carreira como treinadora.

Ao longo deste livro, são citadas algumas frases que nos remetem para o ensino, algumas das quais já fazem parte deste meu portfólio e outras que irão ser referidas neste espaço, pois são realmente frases que nos deixam a pensar e nos trazem algo de rico e novo para o processo.

Sobre o Título

Este título diz tudo aquilo que eu sinto quando me vejo dentro dum pavilhão a dar treinos e a dar às minhas atletas um pouco de mim e do que sei sobre esta modalidade e este Mundo do voleibol. Esforço-me, dedico-me, entrego-me, faço sacríficios por elas, pela modalidade, pela equipa, pela evolução delas, pelo seu desenvolvimento... O meu sangue e o meu suor para um dia alcançar, se não fôr o Ouro, que seja o nosso objectivo e/ou um triunfo desejado por elas e por mim, pelo qual lutamos diariamente.

Sobre o Autor

Dono de uma carreira vitoriosa como jogador e como treinador da selecção masculina brasileira de voleibol, Bernardo Rocha de Rezende, 47 anos, carioca de Copacabana, economistaformado pela PUC, mantém paralelamente uma intensa actividade como prelector e empresário (sócio das redes de ginásios "A!, Bodytech" e de restaurantes "Delírio Tropical").

Bernardinho, o nome pelo qual ficou conhecido, era um atleta apaixonado pelo voleibol, mas ao contrário de muitos outros famosos, era suplente na selecção, o que lhe proporcionou experiências bem diferentes na sua carreira dentro desta modalidade. Só o simples facto de começar num patamar bem mais baixo que os outros - titulares - já me causa um certo fascínio, a capacidade que ele teve em querer ser melhor como treinador do que foi na sua fase de jogador, transcende-me, como muitas outras das suas atitudes mais à frente transcritas. Desta forma, posso afirmar que o passador suplente, tornou-se a estrela do "colectivo" e/ou do espirito de grupo.

 

Resumo

"Ao fim de contas, são as pessoas que fazem a diferença" - Bernardinho.

No voleibol, como na vida, valem os mesmos principios: a necessidade de captar talentos, de manter as pessoa motivadas, de se comprometer com o desenvolvimento de cada membro do grupo e, principalmente, de se criar espirito de equipa suficiente de forma a tornar o desempenho da mesma muito superior à soma dos talentos individuais.

Bernardinho inspirou-se em leituras de biografias de líderes históricos e de grandes desportistas ou treinadores para amadurecer na sua carreira, com um simples objectivo: Criar, ele próprio, a "Roda da Excelência". "Sucesso é o resultado da prática constante de fundamentos e acções vencedoras. Não há nada de milagroso no processo, nem sorte envolvida. Amadores aspiram, profissionais trabalham" - Bill Russel. Inicialmente, e ainda como jogador suplente, Bernardinho ficava no "quadradinho" dos suplentes a observar os restantes jogadores: como se saíam em cada fundamento, o seu empenho, ritmo, a sua postura táctica nas diferentes situações e as suas reacções emocionais, de maneira a desenvolver a sua capacidade de observação, o que mais tarde lhe havia de ser bastante útil. Na aproximação dos seus últimos jogos Olímpicos como jogador, eis uma lesão no menisco do joelho esquerdo, o que o preocupou, mesmo não impedindo a sua participação, que lhe valeu a medalha de Prata. Este, foi outro dos factores relevantes que levou Bernardinho a entregar-se ainda mais à modalidade e as competências que esta exige.

"Progredir é conservar, melhorando" - A. Comte

Numa altura de indefinição profissional, eis que começaram a surgir os convites e os ditos desafios para Bernardinho: Primeiramente foi chamado para treinar a equipa feminina de Perugia, cujo histórico era tudo, menos cativante. "Estratégias iguais nos levaríam a resultados iguais" e por isso, Bernardinho decidiu mudar logo de ínicio os treinos e o rigor, a disciplina e os objectivos. Bernardinho teve algumas dificuldades em entender os problemas caracteristicos das mulheres, contudo, empenhado como é, nunca baixou os braços e tentou tocar sempre na consciência e no sentimento de cada uma, para que a motivação aparecesse de uma forma intensa e, obviamente, intrinseca.

O objectivo deste treinador sempre foi o alcance do tão inalcansável sucesso, ligado à vitória e ao triunfo. "Sucesso é o estado de espírito resultante da consciência que você tem de haver se empenhado para ser o melhor que é capaz de ser" e este, pode ser alcançado por blocos, tal como foi definido por Wooden (treinador e professor da Universidade da Califórnia): Empreendorismo, amizade, lealdade, cumplicidade, entusiasmo, autocontrole, concentração, iniciativa, atenção, condicionamento, talento, espírito de equipa, postura, confiança e espírito de competição. Este sucesso é buscado por Bernardinho, não só no voleibol, como também na vida. Nesta nota, Bernardinho conseguiu, não só que o Perugia crescesse, mas também que ele próprio se desenvolvesse de uma forma positiva como treinador. Errou, superou espectativas, ganhou popularidade e com tudo isso aprendeu e cresceu, chegando mesmo ao ponto de ser posteriormente convidado para treinar a selecção brasileira feminina, convite que aceitou.

"Quanto mais as pessoas acreditam numa coisa, quanto mais se dedicam a ela, mais podem influenciar no seu acontecimento" (Dov Éden)

Começou aqui o grande desafio deste treinador. A equipa que passou a ter na mão tinha acabado de perder o Campeonato Sul Americano e por isso a classificação para a "Copa dos Campeões", para piorar, o relacionamento entre elas não era minimamente saudável, era literalmente um grande desafio. Era um grupo com bastante potencial mas as diferenças de personalidade eram notórias e a única pessoa que conseguiria mudar aquela situação era precisamente Bernardinho, que agora as tinha na mão. Apesar de todos estes facotres negativos, Bernardinho encarou o desafio como uma grande oportunidade e lançou mesmo a meta a atingir: Estar em todos os pódios dos torneios que disputassem. Para tal, e de uma forma que eu achei bastante especial, referiu as caracteristicas que queria na sua equipa a partir de caracteristicas distintas de outras selecções: força das cubanas, estrutura táctica das americanas, o bloqueio das russas, a técnica das chinesas e a defesa das asiáticas em geral. E foi então nesta altura que começou a construir a "Equipa Bernardinho" (com mais elementos na equipa técnica). Bernardinha foi sempre um treinador duro, rigoroso, exigente mas muito amigo (tal como eu admiro e tento ser perante as minhas atletas). A atitude de Bernardinho era incrível: Ele fazia "apostas tentadoras e divertidas" com as atletas, tentava sempre arranjar forma de as motivar e fazer acreditar no trabalho dele, era efectivamente um Líder. "Se você é um líder realmente duro e exigente, seu próprio sacríficio serve como fonte de motivação, pois demonstrará que a equipa não está sozinha", e esta é realmente uma capacidade de grande realce na personalidade de Bernardinho, o que faz dele, diferente de todos os outros. Ao longo do tempo que passou nesta Selecção, houve uma Selecção que lhe fez em muitas vezes, frente, "roubando" lhe/lhes bastantes vezes o Ouro, contudo, Bernardinho não era de desistir e batalhava. As sensações e emoções que se íam vivendo durante os campeonatos eram intensas: Umas vezes o excesso de confiança, outras vezes a falta da mesma... Treinos após derrotas sentidas e antes de medalhas conquistada e, quando não foi Cuba que impediu a conquista da medalha de Ouro, foi a Rússia e, Bernardinho deixou nesta altura uma questão no ar: "Será que fiz o meu melhor?".

"O questionamento constante é uma grande fonte de crescimento e o crescimento, por sua vez, é uma fonte de satisfação".

Pessoalmente, gosto especialmente das reflexões que o Branardinho vai fazendo ao longo do livro, baseado nas suas vivências, uma das quais vou transcrever aqui, neste meu espaço: "O desporto, para mim, não se resume apenas em vitórias e derrotas. Principalmente se a vitória é encarada como a única tradução para o sucesso e se a derrota, inversamente, significa fracasso. É evidente que jogamos para vencer. Em qualquer tipo de competição, desportiva ou não, ninguém entra para perder ou mesmo sem ligar a mínima para o resultado. Acontece que minha passagem pela selecção feminina me levou a reflectir sobre uma questão: onde está o verdadeiro sucesso? No resultado de uma partida, de um torneio, ou no facto daquela atleta, aquela equipa, mesmo perdendo, ter feito o melhor ao seu alcance? É claro que o comentador, preso à sua objectividade, e o apoiante, escravo de sua paixão, não querem saber disso. Para eles, o placar, o título, o recorde é que atestam se uma performance é boa ou não. Só vale o resultado. Para mim, sucesso é consistência em performance de excelência, é produzir resultados ao longo do tempo. (...) O voleibol me ensinou essa lição. É evidente que a derrota me entristece. Nisso, sou igual a todo Mundo. A diferença é que perder só me frustra e me deixa inconformado quando tenho a convicção de não termos feito o nosso melhor".

"Superação é ter a humildade de aprender com o passado, não se conformar com o presente e desafiar o futuro" (Hugo Bethlem)

Com todos estes resultados na sua carreira como treinador, começou a ser convidado para dar palestras em empresas sobre o seu trabalho e a relação que o desporto tem com os desafios do mundo corporativo. A busca da excelência que Bernardinho buscava no desporto, equiparava-se à excelência procurada nas grandes empresas e na vida. Depois da pirâmide já conhecida de Wooden, Bernardinho resolveu estruturar a sua Roda de Excelência, onde distribuidas pela sua circunferência, se encontravam os seguintes fundamentos cruciais para a busca da excelência: trabalho de equipa, liderança, motivação, preseverança, obstinação, superação, comprometimento, cumplicidade, disciplina, ética e hábitos positivos de trabalho. A roda movimentava-se sobre uma "estrada" designada de planeamento, rumo a uma objectivo chamado de meta.

Em suma, Bernardinho já estava na Selecção masculina brasileira, tratando de cada um como únicas que as pessoas são e isso cativa-me. A Roda da Excelência apresentada por Bernardinho é fácilmente posta em prática, desde que um treinador goste daquilo que faz, se entregue e se dedique, fazendo até alguns sacríficios.

"Não nos devemos orgulhar por sermos melhor do que os outros, e sim melhor do que já fomos" (James C. Hunter).

Bernardinho mostra-nos neste livro que é importante criar dificuldades aos mais talentosos para que eles também evoluam, sendo que as facilidades limitam-nos. Fez da citação "Suar mais nos treinos para não sangrarmos nas batalhas", regra e alcançou com todo o mérito o Ouro, a Copa do Mundo no Japão. Bernardinho fazia com que os atletas sentissem que eles eram os que mais faziam por vencer e por isso não podíam entregar o jogo, a vitória, senão... Para quê treinar em vão? Seguiu-se a Liga Mundial e as pessoas já estavam habituadas às vitórias, mais uma problemática para Bernardinho repensar. "As vitórias do passado só garantem uma coisa: grandes expectativas e maiores responsabilidades". E daí surgiu o Ouro, o novo Campeão dos Jogos Olímpicos: Brasil e um grande desabafo de um treinador de elite "Experiência de vida, algumas vitórias e desilusões vão mostrando qual o caminho. E o caminho é este: compartilhar, ser solidário, competir sadiamente uns com os outros para que pudéssemos crescer. Esse grupo trabalhou muito e foi um grupo antes de qualquer coisa" (Bernardinho, Atenas, 2004).

"TIME OUT"

Só chegaremos à vitória se nos entregarmos de verdade aos treinos, ao percurso, à preparação, à educação e a tudo o que de meticuloso este processo envolve.

Crie o seu site grátis Webnode