Jean Piaget

 

Piaget propôs um novo modelo explicativo: o sujeito constrói os seus conhecimentos pelas suas próprias acções. Neste ponto de vista, a inteligência é produto de um processo de adaptação, no qual interagem as estruturas mentais e a influência do mundo exterior, por outras palavras, as estruturas da inteligência são produto de uma construção contínua do sujeito em interacção com o meio. Este defende assim uma posição interaccionista onde o sujeito é um elemento totalmente activo no processo de conhecer, ou seja, é um elemento decisivo nas mudanças que ocorrem nas estruturas do conhecimento e da inteligência. Assim, posso afrmar que, o conhecimento depende da interacção entre as estruturas inatas do sujetio e os dados provenientes do meio. Este processo interactivo desenvolve-se por etapas, que Piaget designa por estádios de desenvolvimento e Esta concepção construtivista e interaccionista supera a dicotomia inato/adquirido que marca a História do pensamento.

Nesta nota, a inteligência de uma criança constrói-se num processo temporal por estádios ou etapas. Verificamos constantes estruturações do sujeito, que possui uma acção de interacção contínua com o meio, tendo portanto um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo:

 

Sensório-motor

    (nascimento aos 18/24 meses aproximadamente) -  A inteligência é fundamentalmente sensorial: o bebé capta todas as informações através dos orgãos dos sentidos e, motora: exprime-se através dos movimentos. É uma inteligência prática, em que não há linguagem nem capacidade de representar mentalmente os objectos. Começando por uma actividade essencialmente reflexa, o bebé vai construindo progressivamente novos meios que lhe permitem explorar o ambiente, agindo sobre ele. É através dos esquemas sensorio-motores que se processa a adaptação ao meio que o envolve.

É neste estádio que aparece a noção de objecto permanente ou permanência do objecto (a criança procura um objecto escondido porque tem a noção de que o objecto continua a existir mesmo quando não o vê. É graças à observação e à exploração do mundo que a rodeia que esta contrói as estruturas lógicas que aparecerão mais tarde. 

Pré-operatório

    (2 anos a 6/7 anos) - Uma das mais importantes conquistas deste estádio é a emergência da função simbólica,ou seja, a capacidade de representar mentalmente objectos ou acontecimentos que não ocorrem no presente, através de símbolos como palavras, objectos e/ou gestos. A linguagem é uma das mais importantes manifestações da função simbólica: as palavras, as frases que representam pessoas, situações, objectos, acções. No jogo simbólico, no fazer de conta... A criança imita, representa um conjunto de comportamentos e/ou de acções. A imagem mental (representação mental de objectos ou acções não presentes no campo perceptivo) e o desenho são também manifestações da função simbólica.

Este estádio vai encontrar a sua designação (pré-operatório) ao facto da criança já pensar mas ainda não ser capaz de fazer operações mentais (acção interiorizada reversível). É um pensamento intuitivo baseado na percepção dos dados sensoriais. Nas experiências levadas a cabo por Piaget, a criança responde à questão que lhe é colocada com base na aparência, por outras palavras, com os dados imediatos da percepção (Por exemplo: Mesmo depois de ter constatado que dois copos têm a mesma quantidade de líquido, se diante dela se verter o líquido de um dos recipientes para um copo mais alto e fino, a criança responderá que este tem mais quantidade de líquido comparativamente ao outro.

Uma outra característica deste estádio é o egocentrismo (a centração impede a criança de compreender que, sobre a realidade, há outras perspectivas além da sua. Domina, portanto, uma visão unilateral e superficial do real. A realidade, encarada por um  pensamento mágico, é o que a criança sonha e imagina no jogo simbólico, não passando disso). 

Operações Concretas

    (6/7 a 11/12 anos) - É durante este período que as crianças começam a ultrapassar o egocentrismo que caracteriza o período pré-operatório. O pensamento é lógico e a criança desenvolve conceitos e começa a ser capaz  de realizar operações mentais. Contudo, como a designação do estádio indica, a criança só é capaz de operar, de resolver problemas concretos e só se estiver na presença dos objectos e das situações.

A capacidade de operar assegura que já há reversibilidade (no exemplo atrás descrito, já é capaz de dizer que a quantidade de líquido é a mesma, porque interiormente, mentalmente, processa a acção inversa. Desenvolve, assim, a noção de conservação da matéria sólida e líquida e, mais tarde, do peso e do volume. Desenvolve conceitos de espaço, tempo, número, lógica. Compreende a relação parte-todo e já é cpaz de fazer classificações e seriações.

Operações Formais

    (a partir dos 11/12 anos) -  este estádio caracteriza-se pelo aparecimento de um novo tipo de pensamento: o pensamento abstracto, lógico e formal. Diferentemente do estádio anterior, já resolve problemas, já opera sem o suporte concreto - realiza operações formais. Coloca mentalmente as hipóteses, deduzindo as consequências: raciocínio hipotético-dedutivo. Pensa abstractamente, formula e verifica hipóteses. Esta capacidade abre caminho à reflexão filosófica e científica. Compreende que, para além da sua perspectiva sobre um dado problema ou situação, os outros podem ter opiniões diferentes.

Surge aqui um novo tipo de egocentrismo, a nível intelectual, que leva o adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias e convicções são as melhores. 

"A mente, em linguagem corrente, não é uma simples folha de papel em branco na qual o meio escreve; mas também não é um dispositivo completamente separado que existe num isolamento glorioso.

(...)

Isto significa que a cognição é um processo permanente, de avanços e recuos, entre as pessoas e o meio. Também pode ser descrita como um processo dialético, o que significa que a cognição nunca ocorre inteiramente "dentro" da criança nem é completamente resultado de estimulação exterior. Pode ainda descrever-se a cognição como o mecanismo regulador que liga as pessoas ao meio. A ideia mais importante em todas estas diferentes descrições é que o processo cognitivo é activo e não passivo. A pessoa afecta o meio e o meio afecta a pessoa, simultanemante. Quando descrevemos as implicações específicas desta definição voltamos continuamente a este ponto básico. A criança não é um organismo vazio, nem a aprendizagem consiste em encher passivamente um recipiente vazio" 

SPRINTHALL, N., SPRINTHALL R., Psicologia Educacional, McGraw-Hill, 1993, p.102

 

Piaget defendia que o desenvolvimento do indivíduo acontecia devido a diversos mecanismos de acção existente nele e em todo o processo:

  • Esquemas – Padrões de comportamento e de pensamento que organizam a interacção com o meio (nos bebés, os primeiros esquemas baseiam-se em acções: respirar, sugar, chupar e agarrar). Estes esquemas são utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos e, graças a isto, o organismo está apto a diferenciar estímulos, como também está apto a generalizá-los.

    “O esquema de uma acção consiste na organização geral dessa acção, que se mantém quando é repetida, consolidando-se através do exercício e aplicando-se às diversas situações que vão variando, em consequência das modificações que ocorrem no meio ambiente” (Piaget, 1972,p.69).

  • Estruturas  “O conceito de estrutura tornou-se clássico quando introduzido pela teoria de Gestalt para combater a associação e seus hábitos atomísticos de pensamento” (Carmichael, 1977).
  • Assimilação – Processo mental que consiste em integrar numa estrutura prévia do sujeito, os diversos elementos provenientes do meio. Pela assimilação incorpora-se os dados das experiências às estruturas cognitivas, isto é, aos esquemas existentes. A assimilação é um processo passivo, em que a criança se limita a receber informações.

“É na continuidade da assimilação que os esquemas se formam, se multiplicam, se assimilam reciprocamente, se coordenam e se organizam finalmente numa estrutura esquemática de conjunto que define a inteligência sensório-motora” (Tavares, J.; Alarcão, I.; 1992).

  • Acomodação – Processo mental pelo qual as estruturas cognitivas (os esquemas existentes) se vão modificar em função das experiências do meio. É um processo em que as estruturas se submetem às exigências exteriores, às situações novas, adequando-se ao meio. A criança já organiza as informações e torna-se capaz de as utilizar.
  • Equilíbração – Processo interno de regulação entre a assimilação e a acomodação. Contudo, todo o equilíbrio induz um novo desequilíbrio. É este movimento de equilíbrio/desequilíbrio que permite o desenvolvimento individual e a adaptação do índividio no Mundo actual.

Em suma, o desenvolvimento é caracterizado por uma constante procura de equilíbrio, a qual significa uma constante adaptação ao mundo exterior. Vê-se que, para Piaget, a aprendizagem não se resume a uma experiência imediata, mas que em conjunto com o processo de equilibração apossa-se da dimensão do próprio desenvolvimento da estrutura cognitiva, que se irá difundir no crescimento biológico e intelectual do indivíduo. Desta forma, o índividuo só avançará para um novo estádio de desenvolvimento, quando as competências do anterior já tiverem sido assimiladas e adquiridas.

Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget